terça-feira, setembro 30, 2003

ORGASMOS 9


(Ilustração: Rodin)

Manuel Maria Barbosa du Bocage

Esse disforme e rígido porraz

Esse disforme e rígido porraz
Do semblante me faz perder a cor;
E assombrado d'espanto e de terror
Dar mais de cinco passos para trás;

A espada do membrudo Ferrabraz
Decerto não metia mais horror:
Esse membro é capaz até de pôr
A amotinada Europa toda em paz

Creio que nas fodais recreações
Não te hão-de a rija máquina sofre
Os mais corridos, sórdidos cações:

De Vénus não desfrutas o prazer:
Que esse monstro, que alojas nos calções
É porra para mostrar, não de foder.
ORGASMOS 8


(Ilustração: Maria Titos)



António Botto

Inédito


Nunca te foram ao cu
Nem nas perninhas, aposto!
Mas um homem como tu,
Lavadinho , todo nu, gosto!

Sem ter pentelho nenhum
com certeza, não desgosto,
Até gosto!
Mas... gosto mais de fedelhos.

Vou-lhes ao cu
Dou-lhes conselhos,
Enfim... gosto!


(de "Antologia de poesia portuguesa erótica e satírica")

terça-feira, setembro 16, 2003

ORGASMOS 7


(Ilustração: Ivan Suarez)

João Garcia é um dos trovadores mais prolíficos e originais do Cancioneiro galego-português. Foi cavaleiro e frequentou a corte de Afonso III. Em grande parte das suas canções, João Garcia deixa transparecer, com um alegre impudor, a obsessão que sente pela mulher do jogral Martim. São duas dessas canções que são aqui apresentadas.

Martim jogral, que defeita,
sempre convosco se deita
vossa mulher!

Vedes-me andar suspirando;
e vós deitado, gozando
vossa mulher!

Do meu mal não vos doeis;
morro eu e vós fodeis
vossa mulher!


Cantiga de Mal Dizer

Nunca tal pulhice vi
como esta que um infanção
me faz; com indignação
a todos dizer ouvi.
O infanção, quando quer,
vai para a cama com a mulher
e nem se lembra de mim.

Nunca receio terá
de mim, que vota ao desdém.
À mulher, a quem quer bem,
sempre filhos lhe fará;
e seus, com desplante diz,
serem os três filhos que fiz.
Leve o demo o que me dá!

Folga ele e penso eu.
Não sei de dor semelhante;
deita-se com a minha amante
no leito que diz que é seu
e fica a dormir em paz.
E se filho ou filha faz
não reconhece que é meu.

segunda-feira, setembro 15, 2003

ORGASMOS 6


(Ilustração: Alberto Guitian)

(Esta segunda cantiga de Maldizer relata uma história, entredentes, em que Pero da Ponte terá sido supostamente atacado por dois homossexuais que o tentaram violar, uma vez que ele desprezava todo e qualquer homossexual.)

Porque mal digo, como homem fodilhão,
o mais que posso destes invertidos,
contra eles trovando e seus maridos,
quis um deles deixar-me em grande espanto:
topou comigo e sobraçando o manto
quis em mim espetar o caralhão.

Porque lhes faço versos e canções
nas quais, quanto mais posso, escarnecendo
vou desses putos que se vão fodendo,
um deles, que de noite me agarrou,
quis meter-me o caralho, mas errou
e lançou sobre mim os seus colhões.

sexta-feira, setembro 12, 2003

ORGASMOS 5


(Ilustração: Frederico Fernandez)

Pero da Ponte era galego, provavelmente de Pontevedra. Frequentou a corte de Afonso X e, provavelmente, a de Jaime I de Aragão. Escreveu nos três géneros (cantigas de amigo, escárnio e maldizer) cerca de 53 cantigas que demonstram o seu talento incomum e o colocam muito à frente do seu tempo.
A sua intimidade com Afonso de Coton, bem como as alusões frequentes que faz hábitos de alcoolismo de Afonso X, dão-nos a entender que ele próprio seria frequentador destes mesmos hábitos e da vida boémia em geral.
Cantiga de Escárnio e Maldizer(esta cantiga trata-se de uma provocação a D. Bernaldo por este se ter apaixonado, na sua velhice, por uma dita "mulher de vida fácil")

Dom Bernaldo, pois trazeis
convosco uma tal mulher,
a pior que conheceis,
que se o alguazil souber,
açoitá-la quererá.
A puta queixar-se-á
e vós, assanhar-vos-eis.

Mas vós que tudo entendeis,
quanto um bom segrel entende,
por que demónio viveis
com uma puta que se vende?
Porque, vede o que fará:
alguma vos pregará,
de que vergonha tereis.

E depois, o que fareis
se alguém a El-Rei contar
a mulher com quem viveis
e ele a quiser justiçar?
Se nem Deus lhe valerá,
muitos vos molestará,
pois valer-lhe não podeis.

E nem vos apercebeis
que se ela tiver um filho,
andando, como sabeis,
com o primeiro maltrapilho,
o que receio para já,
de vós se suspeitará
que no filho parte haveis.
ORGASMOS 4


(Ilustração: Bruno Jordan)

(esta outra cantiga é dedicada a Maria Mateu, a quem Afonso Eanes atribui preferências homossexuais, apesar de não estar excluída a hipótese de ter sido esta a mulher a quem se ligou)

Maria Mateu, daqui vou desertar.
De cona não achar o mal me vem.
Aquela que a tem não ma quer dar
e alguém que ma daria não a tem.
Maria Mateu, Maria Mateu,
tão desejosa sois de cona como eu!
Quantas conas foi Deus desperdiçar
quando aqui abundou quem as não quer!
E a outros, fê-las muito desejar:
a mim e a ti, ainda que mulher.
Maria Mateu, Maria Mateu,
tão desejosa sois de cona como eu!
ORGASMOS 3


(Ilustração: Kiko da Silva)

Afonso Eanes de Coton floresceu nos últimos tempos do reinado de D. Fernando III e nos primeiros do seu filho, tendo frequentado a corte dos dois monarcas. Cultivou quase exclusivamente a sátira, na qual nos deixou treze cantigas que lhe são atribuídas e que são demonstrativas da vida de tabernário e frequentador de mulheres fáceis, como se costumava dizer.Na realidade, as suas deliciosas cantigas de escárnio e maldizer falam por si.
Cantiga de Maldizer(esta primeira cantiga é dedicada a Marinha que, segundo a hipótese de Rodrigues Lapa, se trata de Marinha Sabugal que aparece mais de uma vez nos cantares de Coton)

Marinha, o teu folgar
tenho eu por desacertado,
e ando maravilhado
de te não ver rebentar;
pois tapo com esta minha
boca, a tua boca, Marinha;
e com este nariz meu,
tapo eu, Marinha, o teu;
com as mãos te tapo as orelhas,
os olhos e as sobrancelhas,
tapo-te ao primeiro sono;
com a minha piça o teu cono;
e como o não faz nenhum,
com os colhões te tapo o cu.
E não rebentas, Marinha?


quinta-feira, setembro 11, 2003

ORGASMOS 2


(Ilustração: Alberto Guitian)

(esta outra cantiga terá sido dedicada a Afonso Eanes de Coton, em que Martim Soares, referindo-se na primeira pessoa, apontava os defeitos que afamavam Afonso Eanes de Coton...)

Meu Nosso Senhor, ando eu molestado
com todos os vícios que me foste dar.
Sou dos putanheiros o mais porfiado;
não menos me apraz os dados jogar;
e é grande o prazer que sinto em errar
por estas vielas, do mundo apartado.

Se de melhor vida fora venturoso,
lograra mais preço e mais honras ter.
Mas deste foder mais me apraz o gozo;
e o destas tabernas, e o deste beber.
Já que outra virtude não posso valer,
valha-me viver contente e viçoso.

Se não valho nada e não alimento
esperança de alguma virtude alcançar,
não quero perder este arreitamento,
tão pouco estas putas e este disputar.
Por outras fronteiras não quero eu andar,
trocando o meu viço por agastamento.

E muitos mais vícios acrescentaria,
que cúmplices são do meu desmerecer.
Nunca frequentei a tafularia (jogo),
sem ali desordens, distúrbios fazer;
e, cobardemente, ponho-me a mexer
buscando agasalho entre a putaria.

Quando consolado de muito gozar,
merendo, e, depois, ponho-me a caminho,
aí deixo as putas meus vícios gabar,
louvando-me as manhas e o descaminho.
ORGASMOS 1



Joguete Direito
(esta cantiga terá sido dedicada a Pero Rodrigues Grongelete, uma vez que constava que a sua mulher lhe era infiel...)

Pero Rodrigues, da vossa mulher,
não acrediteis no mal que vos digam.
Tenho eu a certeza que muito vos quer.
Quem tal não disser quer fazer intriga.
Sabei que outro dia quando eu a fodia,
enquanto gozava, pelo que dizia,
muito me mostrava que era vossa amiga.

Se vos deu o céu mulher tão leal,
que vos não agaste qualquer picardia,
pois mente quem dela vos for dizer mal.
Sabei que lhe ouvi jurar outro dia
que vos estimava mais do que a ninguém;
e para mostrar quanto vos quer bem,
fodendo comigo assim me dizia.

Martim Soares (Sec. XIII)
EDITORIAL

Como esta merda de escrever trêtas já não me dá tesão, o Orgasmos vai sofrer uma remodelação Editorial... vou começar a reproduzir Poesia "Orgásmica"!!!